18.12.11
O Triste Crepúsculo de um Ídolo
O Público de ontem, provavelmente por falta de assunto ou imaginação, trazia uma extensa entrevista com o ex-jogador Luís Figo, notável futebolista português de fama internacional, na qual ele se lamentava de ter apoiado politicamente o «socialista» José Sócrates, quando este, à frente do seu Partido, se preparava para concorrer a novas eleições legislativas
Ao aceitar participar numa farsa de suposto apoio político a outro notório e bem nocivo farsante, Luís Figo deve ter assinado aí uma espécie de certidão de óbito do seu, até aí, apreciável estatuto de ídolo nacional. Com tal atitude, Figo certamente iniciou o processo irreversível do seu ocaso como ídolo do Povo Português.
Na altura, Figo apenas terá valorizado a angariação de dinheiro, qualquer coisa como umas centenas de milhares de euros, artificiosamente saídas de sacos azuis de Empresas em que o Governo de Sócrates oportunamente colocara homens de mão.
Tal quantia nem seria nenhuma fortuna, junto dos grossos milhões que este jogador acumulara, com mérito, ressalve-se, quando, pelos mais variados relvados do mundo, maravilhava multidões em delírio com a sua perícia futebolística.
O excesso de dinheiro, todavia, tê-lo-á profundamente perturbado, na mente como no carácter, tornando-o progressivamente ganancioso. De tal forma que nem sequer hesitou em encenar a farsa «pró-socialista», ante as câmaras de TV, logo ali postadas para captar o enlevado momento de encontro das vedetas mutuamente favorecidas.
Daí sairiam ambas, presumia-se, vantajosamente remuneradas; uma, no caso de Figo, por antecipação; outra, no de Sócrates, logo no dia do acto eleitoral, como viria a acontecer, em Setembro de 2009, quando Sócrates ganhou novo acto eleitoral, depois de ter, nesse afinal pródigo ano, aumentado os Funcionários Públicos em 3,5 %, longe, portanto, da crise e dos apertos, por ele repetidamente negados, então já contra toda a evidência manifestada.
Figo, ao emprestar a sua figura mediática a esse sórdido fim, acabou por colher o que semeou e hoje, na verdade, pouca gente ou, pelo menos, muito menos do que a de antes, lhe votará sentimentos de estima ou consideração, como é de regra a um ídolo popular.
Que diferença, dir-se-á, em comparação com o tratamento que esse mesmo povo continua a dedicar a outro ídolo, bastante mais velho, menos gloriado, menos cumulado de dinheiro, mas muito mais genuíno, humilde e, justamente por isso, nunca esquecido desse povo miúdo e pobre.
Nesse outro ídolo do Futebol nacional, buscou o tal povo miúdo, em tempos ainda mais austeros que os actuais, a compensação de uma vida grandemente sofrida e apagada, porém, nunca vil, pela força do seu carácter, o qual, quando encontra direcção competente, corresponde aos sacrifícios que lhe são pedidos.
Sempre assim tem sucedido ao longo da sua História, que contou, como bem sabemos, numerosos períodos de adversidade, com alguns momentos de fugaz glória, mas pelos quais esse povo humilde, mas resistente, nela lavrou o seu traço distintivo.
O ídolo de que falo é evidentemente Eusébio da Silva Ferreira, fora do campo, em quase tudo o oposto do carácter de Figo.
Consta que Figo quer retirar de Portugal todo o seu dinheiro. Talvez seja melhor que o faça, porque, na verdade, já nada mais do que um saco de dinheiro ele representa para o País, o que valerá sempre muito menos do que a figura de ídolo que nele um dia pareceu encarnar.
Depois de ter recusado servir a Selecção, continuando a jogar Futebol num clube estrangeiro, Figo volta a revelar-se indigno de representar Portugal. Para completar a coerência, Figo deveria igualmente mudar de nacionalidade.
AV_Lisboa, 18 de Dezembro de 2011